todas as novidades Postado em 27 de maio de 2016 Categorias: Matérias Tags: #crianças, #equitação, #equitação lúdica, #equoterapia, #terapiacomcavalos, Publicado no Jornal Jurerê News
CRIANÇAS E CAVALOS
SIM! ESSA RELAÇÃO DÁ CERTO!
Especialistas e historiadores dizem que foram as crianças que mostraram aos adultos, que os cavalos podiam ser montados: “Crianças nômades, ao manejarem mansas éguas de leite, desenvolveram brincadeiras de montar nos animais”(1) [i].
E a partir daí a história da humanidade começou a mudar. Foi montando cavalos que os primeiros aventureiros saíram de suas terras para outras, mais longínquas. Sobre cavalos grandes batalhas foram vencidas, cidades conquistadas, terras descobertas e povos mesclaram suas culturas.
E os cavalos estão aí para nos ensinar: através de seu passo, de sua organização e hierarquia, da maneira pela qual aceitam e compreendem o outro, da sua grandeza tão delicada, do seu olhar tão penetrante.
Temos o privilégio de morarmos em uma ilha, com muitos espaços rurais, cercada de pastagens e animais, onde nossas crianças ainda podem crescer com experiências incríveis!
Sou mãe e pedagoga! E foi através de minhas filhas que o cavalo entrou em nossas vidas como um divisor de águas! Foi através da relação delas com esse incrível animal que fui compreendendo a grandeza do coração de um cavalo.
Comecei a trabalhar com equoterapia e a estudar a relação das crianças com os equinos. Afirmo categoricamente: Toda criança deve aprender três coisas: nadar (por uma questão de sobrevivência); praticar um esporte de equipe (para socializar, aprender a ceder, organizar-se em grupo, entre tantos outros…), e andar a cavalo: para aprender todo o resto!
Conseguir dominar um animal de grande porte, com vontade própria, é uma experiência única. Envolve aprendizados tão específicos, que só uma relação dessa natureza pode proporcionar. A criança tem que pensar mais rápido que o cavalo, precisa antecipar seus movimentos, raciocinar sobre como irá fazer tal percurso, como movimentar seu corpo, mãos e pernas, para que o animal compreenda o que ela quer e obedeça a seus comandos.
Descobre que sua postura sobre o animal é tão importante quanto o controle das rédeas, e começa a corrigi-la automaticamente, enquanto desenvolve o equilíbrio, força muscular, noção espaço temporal, coordenação motora fina e ampla, além das percepções tátil, olfativa, visual e auditiva.
O cavalo dá sinais para a criança, se ela está ou não agindo corretamente. O cavalo a corrige assim que percebe o erro, ensinando e impondo limites, reagindo positivamente quando o erro é corrigido. A criança vai percebendo estes sinais e a sintonia sendo estabelecida.
Imagine toda essa ação sobre o desenvolvimento emocional! A criança desenvolve autocontrole, autonomia e uma visão positiva de si mesma. Aprende que tão importante como ser respeitada, é respeitar!
Se pensarmos em todo esse impacto na vida de uma criança saudável, o que dizer daquelas que apresentam alguma dificuldade ou deficiência?
Conseguir impor suas vontades a um animal tão grande, faz com que outros problemas se tornem menores, mais fáceis de serem resolvidos. Além de que, qualquer pessoa que anda a cavalo ao passo recebe estímulos através da coluna, que vão agir diretamente no cérebro, estimulando novas sinapses.
Isso acontece porque o caminhar do cavalo reproduz o caminhar do ser humano, com movimentos tridimensionais. Observem uma pessoa andando ao lado de outra, montada em um cavalo. Os corpos, do quadril para cima, movimentam-se da mesma maneira: de um lado para outro, para frente e para traz, para cima e para baixo. O cérebro deve pensar: Opa! Esse corpo está andando! Tenho que fazer algo para ajuda-lo!
E sabe quem opera este milagre? O cavalo!
Idade limite para montar? Não existe! Em uma aula de equitação normal, a partir dos sete anos, quando as pernas conseguem mantê-lo seguro sobre o lombo. Antes disso, se tiver acompanhamento especializado, com uma boa equipe de equitação lúdica, que ensinará a arte de montar através de brincadeiras e atividades lúdico-pedagógicas, com toda a segurança.
Nestes mais de dezessete anos em que convivo diariamente com crianças e cavalos, pude perceber claramente: a criança que consegue levar um cavalo perfeitamente pelas rédeas, consegue ter as rédeas da própria vida nas mãos.
Foi assim com minhas filhas e tem sido assim com cada criança, com deficiência ou não, que passa algumas horas sobre o lombo de um cavalo. Não há uma só pessoa que conviva com cavalos que não seja tocada positivamente por eles.
Monique Lima Gelbcke
(1)–[i] Rink, Bjarke. Desvendando o Enigma do Centauro. São Paulo: Equus Brasil, 2008.